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1. Victor Paes, alguma angústia técnica lhe tira o sono?
Bem, eu tenho uma certa dificuldade de pensar técnica como algo palpável demais no processo de criação. Tendo a entendê-la mais inserida em uma organicidade, que é fruto de um misto de predisposição para a coisa e de trabalho. Nesse organismo se metaboliza ao mesmo tempo tudo o que acaba convergindo numa obra. Eu sinto angústia muito aí, quando penso no quanto o trabalho está sendo ou não suficiente para alimentar a predisposição. E quando sinto essa angústia, a melhor coisa, que funciona sempre, é parar tudo e sentar para ler.
2. existem muitos poetas no Brasil?
Existem. O problema é que as dificuldades para a poesia, de todos os tipos, existem em uma quantidade proporcional. Isso acontece desde o ensino da poesia. A escola faz parecer que ler poesia é muito difícil e que escrever é muito fácil. Parece que, tanto para ler quanto para escrever, é só se concentrar no pouco que vemos dela na escola – sua funcionalidade, mais especificamente sua função emotiva (uma função legítima, veja bem, como qualquer outra, mas que não sobrevive sozinha), extraída quase à força de um mesmo grupo de seis ou sete poetas. Alguns passam a vida toda sem sair disso, mesmo após se ler e se publicar muitos livros. Mas os que são pinçados pela poesia de um modo mais sério correm por fora, buscam, enlouquecem e esses acabam vivendo a poesia mais seriamente. Esses já nem são tantos assim. Mas, claro, isso é só a ponta óbvia do iceberg. Quanto à escrita, mais especificamente, no fim não existe uma fórmula que defina alguém como escritor. Como ouvi outro dia do Raimundo Carrero, os escritores estão todos é no mesmo barco.
3. Victor Paes, poesia é arte? me desculpe a confusão, poesia é literatura?
Essa confusão é interessante. Porque se a poesia acaba, teoricamente, banida sempre para a margem da própria literatura, quanto mais da arte como um todo. Por isso é tão curioso o movimento que ela está fazendo em direção a uma reaproximação com as artes, cada vez mais no palco, em contracena, ao ponto de abdicar, muitas vezes, até das palavras. O que mostra que na verdade a poesia está acima de qualquer banimento, que ela pulsa sempre, mesmo quando lhe dão extrema unção. Inclusive quando no próprio papel.
4. Victor Paes, vc aspira um Brasil-civilização? quais suas inquietações políticas? vc se importa com política?
Teoricamente, se a política é uma mecânica que tem a todos como engrenagem, é impossível não se importar com ela, mesmo que seja através de nossa negligência. Tenho que reconhecer que às vezes tenho menos paciência do que deveria em acompanhar essa mecânica, principalmente a brasileira. Mas como política não se resume apenas à partidária, não há como um artista ser apolítico em sua obra. Fazer arte é um ato político por excelência.
5. e a mística? vc pensa nas coisas do transcendente?
Olha, já pensei mais. O complicado de pensar no transcendente é que isso já é desde o início um dar murro em ponta de faca. Sou mais pelo não pensar budista. Agora, nunca deixo de sentir espiritualidade nas coisas, em tudo. Principalmente na literatura.
Olha, acho difícil dentro de um gênero não se ver elementos de todos os outros. Definimos um gênero agrupando alguns elementos que elegemos como comuns e excluindo outros. O que acontece hoje é uma tendência a cada vez mais desfazermos esses paradigmas. Esse território incomum torna-se cada vez mais comum. E isso é muito saudável.
7. qual conselho vc deixaria para um jovem poeta?
Conselho parece sempre uma afronta. Porque sempre tira quem o recebe de sua zona de conforto. Então acho que até posso falar por aí: um conselho, desconfiar sempre de sua zona de conforto. Achar sempre que quando a coisa se torna fácil demais, algo está errado. Achar sempre que nunca se leu 1% do que se deve ler. Que nunca se agiu 1% do que se deve agir.
Victor Paes é escritor, ator e editor da Confraria do Vento. Publicou os livros de contos Deus ex machina (Confraria do Vento, 2011) e Mas para todos os efeitos nada disso aconteceu (Dulcineia Catadora, 2010), além do livro de poesia O óbvio dos sábios (Confraria do Vento, 2007). Tem publicados seus contos e poemas em diversas revistas e sites. Participou das coletâneas 24 letras por segundo (Não Editora, 2011), organizada por Rodrigo Rosp, e XXI poetas de hoje em dia(nte) (Letras Contemporâneas, 2010), organizada por Priscila Lopes e Aline Gallina. Publica o blog www.victorpaes.blogspot.com
postagem de gilson figueiredo
Sem dúvida, além de um consagrado escritor, poeta, ator e tudo mais, é um grande e querido amigo de mais de 20anos. Sua inteligência e imaginação nas suas história, contos e escrituras é proporcional ao tipo de pessoa e companheiro que ele é até hoje pra mim: um grande amigo de infância. Por fim, tenho muita saudade de conversar e relembrar os velhos momentos de uma época muito feliz da minha vida e, com certeza, para ele também. Mas a rotina de vida torna-nos escravos das responsabilidades diárias. Sei que não é justificativa, mas gostaria de muito entrar em contato com ele, o qual perdi de vez. Muita sorte e abraço sr. Gilson! meu e-mail é jctemistocles@yahoo.com.br
ResponderExcluirÓtimas perguntas! Grandes respostas
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