quarta-feira, 23 de novembro de 2011

poemas de Clara Balbi








acabou a luz

acabou a luz
derramei cera nas páginas do caderno
por pouco não queimei os dedos
(sempre queimo os dedos), como que uma
represália do destino à essa mania de
escrever, incessantemente escrever
nos braços nos calcanhares nos lábios
de estranhos

inventário

a casa
você e suas doces mentiras acerca de um futuro
(juntos)
aquela vontade súbita de roubar uma garrafa de champagne do supermercado
um buquê de rosas (um ano, Claire. gostaria de estar com você, mas provavelmente estou sobrevoando o atlântico agora) vermelhas
clarice/às pressas/vovó/morrera
"seus óculos não estão grandes demais pro seu rosto?"
algumas noites de inverno em que a loucura fugira e resolvemos aprender valsa meus lábios tocam-não-tocam seu pescoço talvez devêssemos terminar tudo
(nunca sei se vou
ou se já fui)
uma foto de girassóis de oitenta e oito onde atrás se inscreve: "para que amor ferido não se acabe/na eternidade amarga de um instante"

assassinato

mas que mortífero!
acredite: lá fora
ainda jazem algumas
flores
mortas
pelo outono.

de quando virei desconhecida

vovó parece querer despir-se de
si aos poucos,
os olhos vítreos sem
dono e as mãos
desobedientes imóveis no
ar, a língua dormente de tanto
ter de engolir remédio
e minha surpresa quando
gagueja: quem é você?


poema na margem do caderno de física

o cair vaga
roso das
pálpebras durante
o sono interrompido,
parecem pe
sar toneladas,
como os
pianos que
subitamente
despencam do
céu




#

Clara Balbi mora no Rio, cursa Cinema na UFF e Comunicação Social na PUC. Escreve no blog vazio e tem dois poemas publicados na edição 28 do Jornal Plástico Bolha. Nesta foto bonita acima é ela, por ela mesma. Aliás, ela tem um  Flickr.

postagem de Bruno de Abreu

Um comentário:

  1. ainda não tinha lido os três primeiros. leio a clara sempre com um suspiro suspenso. gosto muito dessa delicadeza.

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