terça-feira, 25 de outubro de 2011

forma, meia-noite em paris [sylvia beirute]





Forma


nada tenho em mente excepto a busca da forma
e para isso não tenho vírgulas ou qualquer
pontuação
apenas repentes e mudanças de linha
pois é a busca da forma
é a responsabilidade da busca da forma
mas não a forma de todas as coisas
senão a forma da forma de algumas coisas que
quero e sinto
e tudo tem uma forma
o que se opõe hoje à luz pergunto
e continuarei a perguntar sem o devido ponto
o que parece incapaz de se tornar capaz
que tem a arte do engano a ver
com a arte em geral
e não há carne aqui
nem sequer os seus limites imaginários
impostos pelo espírito exíguo
e a existência se contenta com a própria existência
a exibição da experiência mostra a idade
a influência é prisioneira no corpo
e no final nasce dentro de um conteúdo uma forma
uma versão obsessiva mas ritmada de um momento
uma ambição de morrer
dentro de qualquer palavra
de qualquer forma


#

Meia-noite em Paris

meia-noite em paris.
a minha meia-noite em paris pretende alcançar
as asas do meu silêncio.
não reclama qualquer ferida alheia, não
ostenta o seu coração giratório.
há um pássaro que reconhece um
momento menos sóbrio
e pousa, há uns olhos que permanecem
intactos e não olham.
é meia-noite em paris, ainda que a cidade
seja outra. e esta cidade é, de facto, outra.
o amor acende as luzes do medo.
as janelas do tempo recebem a ventania
que as sombras já não seguram.
há uma tristeza descoordenada nas imagens
dos espelhos que paris augura.
meia-noite em paris. a verdade
é directamente arrancada do coração
e com ele.

##


Uma Prática para Desconserto (ed: 4águas, 2011) é o livro da jovem poeta da terra de Camões e Pessoa. Seu blog que reside em Beirute é 1 livro que reside desde já na história da blogosfera. Fascina pela multiplicidade de referencias que aglomera (muitas das quais conflitantes), que evoca. Sylvia B. é mais q uma pessoa política: é bela. É poeta e é bonita e dizer isso já é o bastante. Ora sua escrita encanta, ora seu sorriso seduz e nessa tecitura de delícias, de algum modo a poesia contemporânea brasileira e portuguesa nos brinda com esta artista sem par, :)
postagem de gilson figueiredo

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