quarta-feira, 7 de julho de 2010

fabiano calixto, entrevista



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Junho de 2010
1. forma e fundo são trabalhados de modo premeditado no seu fazer poético?
Sim, o fundo é a forma. Nada de falácia vazia, para não virar telenovela ou neobarbitúrico; nada de formalismo tosco, para não virar uma poesia que “basta a si mesma. Não necessita mais do mundo, evita qualquer vínculo com a realidade. Nega-lhe até a existência”, como diria o Alfonso Berardinelli, um desses críticos (raros) que gosto de ler. Beber da água do rio em que correm, ao mesmo tempo, “The Man With The Blue Guitar” e “Don’t Look Back In Anger”.

2. poesia no Brasil faz algum sentido?
Olha, caríssimo Gilson, pouca coisa neste mundo faz algum sentido. E dentre essa pouca coisa que faz sentido no mundo, está a poesia. Aliás, a poesia faz todo sentido. Pra quem lê e gosta é uma das coisas mais importantes da vida. Pra quem não lê e não gosta: um prato de bosta. Selaví...
Fazer poesia no Brasil é fazer mágica no absurdo, insistente resistência.

3. para que diabos ler poesia?
Porque nos faz respirar melhor; respirando melhor, temos mais plenitude; tendo mais plenitude somos mais críticos; sendo mais críticos podemos desestruturar, mudar, dar ignição ao planeta. E a poesia é minha lente preferida para ver o mundo.

4. quais os seus poetas de cabeceira? seus autores-faróis (isso inclui influencia e leitura de que lhe agrada, separadamente ou não)?
Vamos lá. Bem, para não deixar a lista nem estediante, nem entediante, cito apenas os poetas que tenho lido apaixonadamente nestes últimos (e sombrios) tempos:

Carlito Azevedo
Ricardo Domeneck
Angélica Freitas
Marília Garcia
Nuno Ramos
Dirceu Villa
Marcelo Montenegro
Murilo Mendes
Paulo Leminski
Torquato Neto
Roberto Piva
Pier Paolo Pasolini
Allen Ginsberg
Acrescentaria ainda dramaturgia-poesia do Mário Bortolotto.

5. o sujeito poético que responde por "fabiano calixto" é o mesmo que vai ao banheiro? onde começa o poeta e termina o homem? isso existe enfim?
Sim, é o mesmo que vai ao banheiro, é o mesmo que paga suas contas com muito sacrifício, é o mesmo que passa numa livraria e não tem grana para comprar uma antologia do Allan Moore, é o mesmo que vai pra universidade, é o mesmo que enche a cara quando ‘tá de saco cheio, é o mesmo que ama seus amigos etc. Sou o mesmo sempre. Sou raro demais para essas tantas (e desprezíveis) máscaras.

6. o que aconselharia aos jovens poetas?
Que façam de sua poesia uma atitude política (não politiqueira, entenda-se), que encham de ética sua estética. Que acendam, mais que palavras, molotovs. E que é mais humano (e, portanto, poético) poupar árvores que publicar livros.

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Fabiano Calixto nasceu em Garanhuns, pe, em 1973. É mestrando em Teoria Literária e Literatura Comparada na usp. Tem poemas e artigos publicados em vários jornais e suplementos do Brasil e do exterior. Publicou os seguintes livros de poesia: Algum (edição do autor, 1998), Fábrica (Alpharrabio Edições, 2000), Um mundo só para cada par (Alpharrabio Edições, 2001), Música possível (CosacNaify/7Letras, 2006) e Sangüínea (Editora 34, 2007) – este finalista do Prêmio Jabuti de 2008 na Categoria Melhor Livro de Poesia. Traduziu poemas de Gonzalo Rojas, Allen Ginsberg, John Lennon, Laurie Anderson, entre outros. Traduz atualmente a obra de Benjamín Prado. Edita, com Angélica Freitas, Marília Garcia e Ricardo Domeneck, a revista de poesia Modo de Usar & Co. Prepara atualmente seu novo livro de poemas, intitulado Nominata morfina.



postagem  de gilson figueiredo

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